SHADOWSIDE: Dani Nolden - "Eu me vejo apenas como Dani, nada mais... "

[ENTREVISTA] Por Geraldo Andrade

Foto: Irisbell Mello
Eleita melhor vocalista feminina de rock do Brasil, é considerada pelos fãs uma das divas do heavy metal mundial. A entrevistada da vez é grande Dani Nolden da banda SHADOWSIDE, que conta como foi a recente turnê Europeia e os shows com a banda SupreMa e a atual fase da banda. Confira:

HEAVYNROLL - Em primeiro lugar, em nome do Heavynroll, quero agradecer a oportunidade de entrevistar uma das melhores vocalistas do rock brasileiro:

DANI - Eu que agradeço pelo espaço, pelo apoio ao meu trabalho e pelo elogio!

HEAVYNROLL Recentemente o SHADOWSIDE voltou de mais uma grande turnê Europeia com mais uma preciosa bagagem na carreira da banda e também pessoal. Missão cumprida?

DANI - Parte da missão, sim... mas ainda temos muito a fazer! Cada turnê sempre significa um maior amadurecimento da banda e de cada um de nós, sempre passamos por situações complicadas, o desafio é grande porque não podemos apenas manter a qualidade do show, mas temos que procurar subir o nível dia após dia sem descanso. Sinto que nossa responsabilidade é maior agora, porque nas nossas primeiras turnês as pessoas não nos conheciam, não sabiam o que esperar de nós, não tinham uma ideia formada sobre nós então tudo era uma surpresa, tanto para nós quanto para os fãs. 
Agora a situação mudou, ficamos um pouco mais conhecidos e com isso vem também a cobrança, que é algo que nós gostamos pois não nos permite acomodação. Não que antigamente nós fizéssemos um trabalho com menos esforço por isso, mas não queremos nos esforçar menos agora por termos alcançado algumas coisas, muito pelo contrário. 
Ter cumprido essa “missão” significa apenas que vamos lutar ainda mais para merecer o lugar que estamos ocupando no momento e deixar os fãs brasileiros orgulhosos quando temos a oportunidade de levar o nome do Metal do Brasil para o exterior.

HEAVYNROLL O que mais te marcou nesta turnê? Qual o fato que você pode citar como inesquecível?

DANI - A recepção do público, sem dúvida alguma, é algo marcante. Mesmo não sendo nossa primeira turnê, nunca sabemos o que esperar, pois as situações são sempre diferentes, o repertório é novo e por mais que o "Inner Monster Out" tenha sido tão bem recebido, não tínhamos como saber como o público europeu reagiria às músicas. Ver as pessoas na Grécia e na Polônia gritando “Shadowside”, em uma ocasião logo após o nosso show, na outra, durante os agradecimentos do pessoal do HELLOWEEN e GAMA RAY... eu não entendi o motivo, acho que estavam pedindo a nós para irmos agradecer também (risos). Toda a turnê foi inesquecível.

HEAVYNROLL Um grande feito do SHADOWSIDE nesta turnê foi à inédita apresentação de uma banda brasileira de heavy metal no consagrado e renomado Olympia em Paris. O que você pensou no momento que subia ao palco, o mesmo em que grandes nomes da história do rock também pisaram?

DANI - A casa lendária por onde passaram artistas brasileiros como TOM JOBIM e ELIS REGINA, além de outras estrelas internacionais como BEATLES, ROLLING STONES, JIMI HENDRIX. Ficamos muito honrados, emocionados... a casa parece ter vida própria, é um lugar incrível, muito antigo, fundado em 1888. Arte e música estão em cada canto daquele local. Para coroar o acontecimento, os franceses foram incríveis conosco, foi um dos melhores públicos de toda a turnê. 
Não dá para dizer qual foi o melhor porque com frequência terminávamos um show e falávamos entre nós “hoje entrou para os top 3”, mas acredito que falamos isso umas 15 vezes (risos). Mas sem dúvida, foi um dos públicos mais calorosos de toda a Europa. Eles gritavam, aplaudiam e muitos cantavam, algo que nos surpreendeu porque nunca havíamos tocado na França antes. Foi um show para ficar para a história da banda. 


HEAVYNROLL Esta turnê foi para promover o excepcional álbum “Inner Monster Out”, como tem sido a aceitação do público estrangeiro ao álbum. Como citas-te acima. em muitos shows a galera cantava as letras das músicas.

DANI - Sim, especialmente nos países onde já havíamos tocado, foi muito legal ver que a galera realmente acompanhou nosso trabalho! Na outra turnê europeia, fizemos shows por todo o Reino Unido, mas dessa vez tocamos apenas em Londres, na Inglaterra. Para nossa surpresa, vários fãs de todo o Reino Unido, vendo que não tocaríamos outras datas por lá, foram até Londres para nos ver, incluindo um dos nossos fãs mais leais que acabou tatuando meu autógrafo no braço e foi até nós no final do show para mostrar o que ele havia feito! 
Muita gente dizia “eu estava no show de vocês em 2010”, porém muitas outras também diziam “eu não conhecia vocês e adorei”, portanto ficamos muito felizes ao saber que nossos fãs da turnê passada estavam lá e que fizemos novos fãs também, foi muito importante para o nosso crescimento. 
O "Inner Monster Out" é praticamente uma unanimidade, a maioria esmagadora o considera nosso melhor álbum até o momento, e todos nós na banda concordamos. Não é por acaso que esse álbum vendeu ao menos o dobro de cópias dos outros dois, tanto no Brasil quanto no exterior. Estamos animadíssimos com isso, porque esse é o nosso álbum mais espontâneo. É o primeiro álbum que fizemos o que deu vontade, sem segurar a criatividade, sem forçar qualquer composição. "Inner Monster Out" é a identidade do SHADOWSIDE e é nosso melhor álbum, o que nos diz para continuar nesse caminho. Com certeza o próximo álbum será espontâneo como esse, faremos o que rolar livremente na sala de ensaio, sem rótulos, sem preocupação com vendas... a única regra é que tem que ser pesado!

HEAVYNROLL E tocar ao lado de verdadeiras lendas vivas do metal, bandas que de certa forma criaram algumas vertentes do estilo, o HELLOWEEN e o GAMMARAY. Como foi esta experiência, você tinha contato com os integrantes dessas bandas?

DANI - Nós tínhamos algum contato, mas apesar desse contato ser diário, ninguém tinha tempo para bater papo, trocar ideias... quando eles estão passando o som, nós estamos montando nosso equipamento para estarmos prontos quando eles terminarem, para então passarmos o som e logo em seguida fazermos o show. Ou seja, os momentos que eles tem livre são os nossos momentos de trabalho e vice-versa (risos). 
Após o show, era hora de juntar as coisas e ir para a próxima cidade, cada um em seu ônibus, portanto foi quase como trabalharmos no mesmo “escritório” por 2 meses, porém estarmos ocupados demais para poder tomar o cafézinho (risos). Demos algumas risadas, especialmente com a equipe! Todo mundo sentiu que estávamos meio tensos no início, porque nossa última turnê foi com o W.A.S.P. Você pode imaginar o que passamos (risos). Não tínhamos permissão para nada, nem para usar o chuveiro da casa, nem para entrar na casa para o almoço, só podíamos entrar durante a nossa passagem de som. O pessoal do W.A.S.P. nunca nos tratou mal, mas as regras eram bem rígidas. 
Então quando perguntei ao tour manager do HELLOWEEN se poderíamos usar o chuveiro depois que eles usassem, ele respondeu meio surpreso... “mas é claro que vocês podem usar o chuveiro, porque não poderiam?” (risos) Quando contamos a eles porque estávamos tão tensos e tímidos, com medo de fazer algo errado, eles começaram a brincar conosco. O técnico de bateria do GAMMA RAY, vendo Fabio montar sua bateria na frente do palco durante a passagem de som do GAMMA RAY, foi até ele, completamente sério, e disse: “você está atrapalhando. Fique a pelo menos 25 metros de distância do palco, por favor”. Fabio arrastou sua bateria para longe do palco e quando ele se vira, o técnico está quase sem ar de tanto rir (risos). Sascha, do HELLOWEEN, estava sempre fazendo alguma graça com os meninos, todos eles estavam sempre tentando nos deixar confortáveis. São pessoas simples, gentis. Eles tornaram a convivência entre todos muito fácil e não tenho qualquer coisa ruim a dizer sobre eles.

HEAVYNROLL Como o metal brasileiro é visto lá fora hoje em dia?

DANI - Ainda é pouco conhecido, mas visto com bons olhos. Alguns conhecem tudo de metal brasileiro, até bandas pouco conhecidas aqui no Brasil, apenas porque gostam do metal daqui. Outros conhecem muito pouco, a grande maioria conhece apenas SEPULTURA. Posso correr o risco de ofender alguém aqui, mas espero que as pessoas entendam que não estou diminuindo ninguém. Apenas quero dizer que o fã de metal que vai ao show do SHADOWSIDE conhece mais SEPULTURA e em raras ocasiões, algumas coisas mais extremas do Brasil. Fãs de bandas como ANGRA provavelmente gostam de outros tipos de banda, não sei dizer, mas é curioso como a maior parte dos nossos fãs costuma escutar mais som extremo que metal com melodias mais marcantes, apesar de nós termos essas melodias marcantes. 
Talvez por nosso som ser bem pesado e nervoso, por eu cantar de forma bem intensa, acho que a galera que gosta de algo mais direto acaba curtindo o que fazemos. Então acredito que divide um pouco lá fora... existe o público que vai atrás do som mais nervoso, direto e aquele que curte orquestrações, teclados, talvez uma música mais alegre... mas no geral, o metal brasileiro tem boa reputação e respeito. 

HEAVYNROLL Ainda falando em turnê, e os shows SHADOWSDE e SupreMa, no Brasil? Como foram os primeiros?

DANI - Foram muito legais! Eu gosto muito de dividir o palco com outros músicos e isso não é discurso político (risos). Eu realmente acho divertido. Quebra a rotina, você interage com músicos com quem não costuma tocar normalmente, é algo interessante tanto para nós quanto para o público que vê algo diferente. Eu sinceramente sonho com um dia em que isso vai ser possível não só entre SHADOWSIDE e SupreMa, mas entre SHADOWSIDE e qualquer outra banda do Brasil, entre SupreMa e qualquer outra banda do Brasil. Infelizmente, todas as tentativas que fizemos de tocar com outras bandas dessa forma como tocamos com eles acabaram frustradas porque a tal união no Brasil ainda é de fachada. Muita gente bate no peito e grita “união” mas na hora de realmente botar a mão na massa, fazer um mini-festival itinerante com condições iguais para todos, abrindo espaço para bandas novas... a coisa não anda. 

HEAVYNROLL Existe alguma chance dessa turnê passar pelo Sul do Brasil?

DANI - Eu espero que sim! Basta convidar que nós iremos!

HEAVYNROLL Você é namorada do guitarrista do SupreMa, Douglas Jen, deve ser um lance muito legal, fazer uma turnê com o namorado. Pode comentar isso? 

DANI - É muito legal mesmo, é maravilhoso estar na estrada com a sua família, com as pessoas que você ama, que são especiais para você. A maior dificuldade da vida na estrada é estar longe do companheiro e de família, mas quando você pode estar com eles e ainda fazer uma jam com seu namorado, a vida na estrada passa a ser maravilhosa (risos). 
Os problemas e as dificuldades continuam lá, mas como nós amamos a nossa vidinha maluca de pouco sono, horários estranhos e cada dia em uma cidade, recebemos tudo isso com o maior prazer e tudo se torna fácil, quando não temos que sentir saudade. O fato de nós dois sermos músicos também torna nosso relacionamento muito mais fácil, um entende o outro, sabemos que no dia do show os dois estarão extremamente ocupados, sabemos que os fãs querem conversar e bater fotos após o show e nunca teremos um ataque de ciúmes (risos). 
Temos carinho pelos fãs um do outro, como se fossem nossos fãs também. Isso tudo me deixa muito feliz, mas ao mesmo tempo me lembra do lance da união do metal no Brasil. Eu gostaria que outras bandas se juntassem a nós, ou que fizessem suas próprias turnês... gostaria que eles mostrassem ao público que é possível fazer uma cena unida acontecer aqui no país e não é pelo nosso envolvimento pessoal. Basta que sejam amigos e se respeitem! 

HEAVYNROLL Podemos dizer que o SHADOWSIDE vive seu melhor momento?

DANI - Sem sombra de dúvida! Mas estamos focados. Estamos celebrando e aproveitando o momento, porém sempre conscientes de que se relaxarmos, a queda é muito mais rápida. Estamos felizes mas o objetivo é que este seja nosso melhor momento até agora, porém não o melhor momento da nossa carreira.

HEAVYNROLL Como está a agenda da banda?

DANI - Temos mais alguns shows sendo marcados para Novembro e Dezembro de 2013, além de várias datas pré-agendadas para 2014. Sei que algumas delas serão festivais, então nos intervalos desses shows trabalharemos em novo material, dessa forma assim que encerrarmos de vez o ciclo do "Inner Monster Out" estaremos prontos para entrar em estúdio. Portanto apesar de ainda estarmos fazendo shows, pois nos falta visitar muitos lugares ainda, já estamos compondo.

HEAVYNROLL Como é ser considerada uma das Divas do metal mundial?

DANI - Eu não sei, não me sinto assim (risos). Sinceramente não me vejo dessa forma, acho que “diva” é um título estranho. Eu me vejo apenas como Dani, nada mais... acho que alguém se enxergar como uma diva, musa ou qualquer coisa parecida é algo arrogante demais. Agradeço quando os fãs me enxergam assim, fico feliz pelo reconhecimento, mas não acredito (risos). Acreditar seria sair da realidade. Fora do palco sou uma mulher como outra qualquer. 

HEAVYNROLL Sempre pergunto para as mulheres que entrevisto: Hoje em dia, as mulheres estão se destacando muito na musica coisa que antigamente acontecia muito pouco. Existem bandas e artistas talentosas demais. Qual a tua opinião sobre isso? A que se deve essa “invasão”?

DANI - Provavelmente ao interesse maior das mulheres pelo heavy metal. Eu vejo essa “invasão” acontecendo apenas no heavy metal, pois na música em geral sempre tivemos mulheres talentosíssimas. Mulher na música e nas artes não é uma novidade, portanto acho que a falta de mulheres no metal era apenas porque poucas realmente gostavam de metal. 
Há 10 anos atrás, a maioria das meninas ainda ia aos shows acompanhando o namorado ou gostava apenas dos gêneros de metal mais delicados. Agora você vê meninas nos shows porque gostam do som, curtindo os sons mais extremos que você puder imaginar, então é natural que mais meninas acabem tendo vontade de formar bandas, o que faz com que mais talentos femininos sejam revelados. 
Não é que as mulheres aprenderam a tocar e cantar agora... é que elas simplesmente não tinham tanto interesse pelo heavy metal, costumava ser música de homem. E ainda tem muito menos mulheres escutando metal que homens, portanto é apenas natural que a grande maioria das bandas seja formada por homens. Antes de um talento ser revelado, centenas vão ficar pelo caminho, portanto agora que várias meninas estão se interessando, algumas serão destaque. Música não tem gênero, na minha opinião. Não é um esporte, onde a força física faz diferença. 

HEAVYNROLL Em 2012, você foi eleita em um site especializado, como a melhor vocalista feminina, mas comentou que não gostaria que houvesse a separação vocal feminino e masculino, pode explicar para nós?

DANI - Homens e mulheres cantando, por exemplo, estão em igualdade de condições. É claro que as vozes são diferentes, timbres diferentes, extensões diferentes, porém “cantar bem” não depende de você ter nascido homem ou mulher. Tudo bem, você pode ter uma voz feminina favorita e uma voz masculina favorita, o que justifica a separação nessas pesquisas. Porém, na questão de “melhor vocalista”, não acho que a separação seja necessária... bem, na verdade, nem acho que a pesquisa seja necessária (risos). Decidir quem é o melhor na música é algo extremamente subjetivo. 

HEAVYNROLL Quais vocalistas você destacaria hoje, independente de estilo?

DANI - Independente de estilo, eu destacaria Adele. Ela tem domínio completo da voz dela. Dentro do metal, existem cantores excelentes em inúmeras bandas, eu seria injusta mencionando apenas um ou dois.

HEAVYNROLL O que a Dani ouve hoje em dia?

DANI - DISTURBED, SEVENDUST, RAMMSTEIN, sem esquecer dos meus velhos favoritos como SKID ROW e JUDAS PRIEST. Gosto de coisas fora do Metal também, como QUEEN e PINK FLOYD. 

HEAVYNROLL Como somos um blog do Sul, gostaria de saber o que você conhece do rock gaúcho?

DANI - Conheço HIBRIA, SCELERATA, ROSA TATTOOADA, CACHORRO GRANDE...

HEAVYNROLL O que você diria para as meninas que hoje estão pensando em ser, ou estão iniciando uma carreira de vocalista?

DANI - Mantenham sua identidade, sempre! Existe muita gente por aí que sabe imitar, que soa como o Bruce, como o Halford, como a Tarja, como a Angela... mas ninguém soa como você! Estudem a técnica, mas não se esqueçam do sentimento. Não adianta ter a técnica perfeita sem comunicar a emoção que a música pede. Cuidem do seu instrumento, pois vocês não podem trocá-lo, consertá-lo ou comprar outro se ele quebrar. Conheçam sua voz, seus limites e sempre tenham em mente que cantar bem não é ter a maior extensão, cantar a nota mais aguda... cantar bem significa utilizar seus recursos da melhor forma possível.
Sua voz é única, use isso ao seu favor! Se você acha sua voz feia, ela muito provavelmente não é, e mesmo assim com a técnica correta, você tem como deixá-la mais bonita. Cantem por prazer, sempre... não por sucesso ou dinheiro. Cante porque gosta e o sucesso será algo natural.

HEAVYNROLL Um recado para os fãs e leitores do Heavynroll:

DANI - Espero que gostem do "Inner Monster Out", é dor no pescoço garantida! (risos) Nos vemos em breve em algum show, obrigada pelo apoio!

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Leia a resenha de "Inner Monster Out"
http://heavynrollspace.blogspot.com.br/2011/12/eu-recomendo-shadowside-inner-monster.html

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